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Há futuro para Sérgio Moro depois da Vaza Jato?

Popularidade do ex-juiz está em queda nas pesquisas de opinião, mas cientistas políticos consideram outros fatores determinantes para a deteriorização da imagem de Moro


Maria Eduarda Mendes :: estudante de Jornalismo


Desde o dia 09 de junho de 2019, o jornal The Intercept Brasil tem divulgado materiais relacionados à Lava Jato, que fragilizam a imagem de Sérgio Moro, alçado ministro da Justiça e da Segurança Pública do governo Bolsonaro. O que se tem discutido é o impacto das denúncias em relação aos envolvidos - além de Moro, o procuradores da Lava Jato em Curitiba. Além disso, as mensagens divulgadas pelo The Intercept comprometem a imparcialidade do juiz no caso envolvendo a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.


De acordo com o jornal, agora em parceria com outros veículos de imprensa, a convicção de que um triplex no Guarujá seria propina da Petrobras dada ao ex-presidente era uma dúvida para o próprio promotor do caso horas antes do julgamento. Glenn Greenwald, jornalista e um dos fundadores do jornal The Intercept, diz que o material a ser revelado irá “tirar a máscara de Sérgio Moro”, fato que tem gerado grandes expectativas diante do conteúdo que está sendo, aos poucos, divulgado.


Segundo os jornalistas responsáveis, o material está sendo estudado minuciosamente e preparado jornalisticamente para ser o mais relevante possível. O Intercept tem evitado publicar conteúdos privados ou que não são de interesse público, como rezam os bons manuais de conduta profissional. Por se tratar de um assunto delicado em função dos envolvidos, suposições acerca da legalidade quanto à publicação do material têm ganhado força, tanto nas mídias quanto no Governo. Sérgio Moro alega que as informações vazadas foram obtidas através de um grupo criminoso organizado, repetindo inúmeras vezes ter sido vítima de hackers, o que já foi negado pelo Telegram, aplicativo de mensagens usado pelos juiz e os procuradores.


Leandro Demori, editor do The Intercept, em evento realizado em Florianópolis, na Universidade Federal de Santa Catarina, reforçou que o material foi obtido por fonte anônima. Nunca houve qualquer confirmação de que os conteúdos estão relacionados a ação de hackers, o que é condenado pelos próprios jornalistas. Por que o foco está na forma como o material foi obtido e não no material em si? Há grande expectativa em relação aos próximos conteúdos a serem divulgados pelo jornal. Glenn sugeriu nas suas últimas newsletters que, de alguma forma, a divulgação deve ganhar proporções ainda maiores. Além disso, Glenn afirma que as denúncias estão apenas no começo.


Qual a relevância desse material e quais os possíveis desdobramentos? Com a repercussão do conteúdo, desmontando a figura de imparcialidade de Moro, o futuro do ministro, que se afastou temporariamente para resolver problemas particulares, é incerto. É a imagem política dele que corre mais riscos. A cada conteúdo divulgado pelo The Intercept, as chances de Moro conseguir a tão sonhada vaga no STF fica mais distante.


Na sexta edição do Barômetro do Poder do Infomoney, realizada com analistas sobre as vozes mais influentes no mercado sobre temas relacionados à política nacional, levantamento feito entre os dias 26 e 28 de junho mostra que seis das 11 casas de análise política avaliaram que o material vazado pelo Intercept tem impacto moderado em relação ao futuro da carreira política de Moro. As outras cinco relataram que as informações têm alto impacto na carreira do ex-juiz.


Para o cientista político Carlos Pereira, professor da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getúlio Vargas, não houve estremecimento acerca da popularidade de Moro. Segundo ele, na lógica da polarização política evidenciada no país, o ex-juiz pode até mesmo sair fortalecido da situação, principalmente entre os grupos que o veem como ‘ator fundamental’ no processo de combate à corrupção. Lucas de Aragão, analista da consultoria política Arko Advice, adverte no entanto que Moro pode ter perdido apoio junto à opinião pública mais qualificada, o que não muda a visão do ‘brasileiro médio’, apoiador da Lava Jato, ‘anestesiado’ pelas denúncias de corrupção e que apoia emocionalmente “o juiz que colocou bandido na cadeia”.


Segundo levantamento feito pelo Instituto Atlas de Pesquisa, realizado entre os dias 10 e 12 de junho, logo após o vazamento das conversas, 58% dos entrevistados alegaram condenar a conduta de Moro, sendo que seu percentual de avaliação positiva caiu de 60% em maio para 50,4% naquela semana. Já a cientista política Lara Mesquita, entrevistada pela BBC News, logo após a passeata do dia 30 de junho em favor de Sérgio Moro, a Vaza Jato pode trazer complicações para o atual ministro Justiça e da Segurança Pública no longo prazo. Dependendo de suas ambições para o futuro, “uma coisa é ele querer ser ministro do Supremo. Outra é querer se candidatar, digamos, a governador. Se tiver interesse em seguir uma carreira política, talvez até tenha uma repercussão boa. E as manifestações vão ser importantes para demonstrar sua popularidade".


Pedro Otoni, da Carta Capital, montou alguns cenários que podem ser levados em consideração a conjuntura atual. O primeiro cenário seria em que Moro e sua ‘turma’ da Policia Federal são descartados, mas a Operação Lava Jato segue adiante com novos operadores, com possibilidade de descarte até mesmo da operação. Em um segundo cenário, a conduta de Moro e Dallagnol é condenada, mas justificada pelos resultados obtidos com a operação no combate à corrupção, reafirmando sua imagem de herói e autoridade política. O terceiro cenário traz o aspecto de conexão entre as revelações da Lava Jato e a Globo com os interesses do Estado Brasileiro e setores econômicos estrangeiros, gerando elementos mobilizadores da população. A ver nos próximos capítulos.

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