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Grandes emissoras de TV defendem a Lava Jato e ignoram denúncias

As maiores redes de televisão no Brasil, que concentram o maior percentual de audiência em termos absolutos, usam a concentração de poder para desqualificar a #vazajato


Laura Fontana :: estudante de Jornalismo

Luciano Bitencourt :: professor de Jornalismo e Publicidade e Propaganda


O meio de comunicação de massa mais abrangente no Brasil ainda é a televisão. De acordo com o Media Ownership Monitor, a audiência concentrada das quatro maiores emissoras do país (Globo, Record, SBT e Band) é de 71,10%. Ao contrário do que muitos imaginam, a internet ainda não tem a mesma força. Ao longo da trajetória da indústria midiática brasileira, as facilidades políticas e legislativas para consolidar a concentração de propriedade são evidentes. Poucas famílias beneficiaram-se com os arranjos que priorizaram o acúmulo de veículos e a hegemonia no mercado de comunicação. Dessa forma, pensar em grande mídia, é pensar na influência da televisão sobre os brasileiros.


A Globo, por exemplo, vem perdendo espaço entre os telespectadores para a Record e o SBT. Segundo o Instituto Reuters, em parceria com a Universidade de Oxford no Reino Unido, o trabalho jornalístico do SBT de Silvio Santos foi eleito o mais confiável do Brasil, seguido pela Band e a Record. Isso mostra que a Rede Globo, que ainda mantém grande audiência do país e possui emissoras próprias (2 geradoras e 3 filiais) e 118 afiliadas espalhadas por todo o território brasileiro, está com a popularidade em baixa. Na mesma pesquisa, aparece apenas décima posição entre as 12 emissoras analisadas.


De acordo com o professor e pesquisador Venício Lima, a composição do setor de mídia no Brasil seguiu um modelo liberal, desassociado do Estado, e que traz indícios de uma forte concentração de poder político e econômico. Na década de 80, segundo Lima, a Rede Globo desembarcou do projeto de governo do período militar porque o então presidente João Figueiredo abriu o mercado para outros pretendentes quanto à exploração de canais de televisão no Brasil. O SBT, por exemplo, foi uma das redes que cresceu a partir dessa decisão. A estratégia dos militares era desconcentrar o poder que a Globo adquiriu durante dos anos de chumbo.


Se, anteriormente, ao longo do processo que levou ao impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff e a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, os jornais televisivos da Globo que foram contundentes no posicionamento, agora têm divulgado moderadamente o episódio envolvendo o vazamento de conversas comprometedoras entre Sérgio Moro e os procuradores da Lava Jato. Quando saíram as primeiras reportagens do The Intercept Brasil, em 09 de junho, se viu pouco sobre o assunto na emissora. E quando começou a dar destaque ao tema, o foco não foi sobre o material em si, mas na forma como as conversas vazadas de um aplicativo de mensagem de celulares funcionais do grupo foram obtidas.


Um vídeo gravado em canal próprio pelo procurador Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa e um dos principais alvos da denúncia do Intercept, foi exibido nos telejornais da Globo no dia seguinte (veja aqui no Jornal Hoje) ao vazamento. As suposições de que a fonte do Intercept era um hacker foram reforçadas a partir do pronunciamento de Dallagnol em cadeia nacional e usadas como estratégia de defesa pelos procuradores envolvidos e por Sérgio Moro.


Já o SBT usou em seus telejornais a entrevista dada pelo ministro da Justiça e Segurança Pública no programa do Ratinho também para defendê-lo. Moro foi elogiado pelo apresentador, que até o chamou de “um herói sem capa, único herói brasileiro no momento”. Na entrevista, o ex-juiz desmerece as mensagens, mesmo que não negue sua veracidade, e se disse preocupado com a forma como o conteúdo foi obtido. Outros programas do grupo têm dado espaço para o presidente Jair Bolsonaro em raros momentos de aparição pública fora dos canais oficiais em mídias sociais. Mas o jornalismo da emissora não tem dado espaço para as repercussões sobre o caso.


A Record, que tem se transformado na emissora de preferência de Bolsonaro, não foi muito diferente. Durante sua programação, uma reportagem exibida no Jornal da Record, focou na defesa do juiz e induziu, por meio de uma nota do ministro da Justiça e Segurança Pública, que as mensagens foram manipuladas e roubadas por meio de hackers. A emissora também aborda o caso a partir da estratégia de defesa de Moro sem explorar a contradição do grupo da Lava Jato, afirmando que não há "anormalidade" nos diálogos, expostos de forma "sensacionalista" e "fora de contexto".


A ideia de parcialidade, hoje associada à postura do The Intercept Brasil, está evidente na postura das grandes redes de TV, que ainda dominam a audiência no país. Ao omitir as várias possibilidades de interpretação sobre a #vazajato, também revelam um ponto de vista hegemônico, focado na defesa do ex-juiz e dos procuradores de Curitiba.

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